14.4.10

Confissões de um crime pueril...

Lembro-me dos tempos em que eu e meus tão prezados amigos por volta dos felizes treze anos jogávamos "bila" (ou bolinha de gude) nos finais de tarde. O jogo é brilhante. Alocávamos-nos em um terreninho de areia onde podíamos facilmente colocar os buracos para os jogos e o "palmo" saía direitinho. Era o único lugar onde podíamos ser felizes em nosso vício, vivendo e assistindo inúmeros dérbis.

É incrível o número de clichês na minha vida e mais um se apresentava: “não importa onde você esteja; sempre haverá um filho da puta”. Era uma senhora (velha maldita) que morava no térreo com a filha e o neto ainda bebê, e a senil se incomodava diariamente e injustamente com nossa, digamos, balbúrdia. Ela gritava, praguejava, derramava lágrimas de réptil, mas nada nos extraía do nosso templo das bilas.

Quando um belo dia a mulher enlouqueceu. A decrépita lançou pela janela um balde de água quentíssima, quase fervendo em uma de nossa “coleguinhas” e ainda mandou colocar pedras, cascalho,arenito, quartzo, mármore e tudo que você estudou no colegial, acabando com a nossa diversão.

Revoltado com aquela crueldade sem precedentes, eu desenvolvi um plano acintoso com um amigo da época. Pedi educadamente para que ele conseguisse papel higiênico com a uma de suas pretendentes e que fosse à nossa estação de tratamento e obrasse. Isso. Cagar é uma arte, e ele era um grande e auspicioso escultor.

Na época eu já havia desenvolvido (como muitos aqui hão de se identificar) um amor por atear fogo em coisas, e nunca saía de casa sem minha nobre caixa de fósforos.

Então ele despejou a merda empacotada no papel higiênico sobre o tapete da velha funesta e eu apliquei fogo no embrulho. Para finalizar com um toque de genialidade, modéstia a parte, apliquei a famosa campainha infinita - um pedaço de papel, madeira ou qualquer coisa fina que preencha o espaço do interruptor da campainha, de maneira que quando você aperte fique fixo e tocando sem cessar – e saímos em trote para a casa de um amigo.

E novamente os clichês: É verdade o que dizem sobre o criminoso sempre voltar ao local do crime.

Quando lá cheguei, a confusão tinha tomado conta de tudo e todos. Dobrei-me para não rir ao ver a marca de tamanco na merda, onde ela provavelmente pisou na esperança vã de aplacar o fogo. E foi ainda mais difícil quando ela me encontrou e disse:

- Meu querido filho do Fabiano (meu pai, dã), você sabe quem foram os vândalos que fizeram isso comigo?

- Não senhora, estava jogando vídeo game com os garotos...

- Obrigado, sei que é um menino direito e que vai me dizer qualquer coisa que souber

- Sim, senhora...

Depois do ocorrido ela se mudou e podemos jogar bila até envelhecermos... mentira, ninguém tirou os pedregulhos do campo e a história acabou mal para ambos os lados.

2 comentários:

Estácio disse...

Soh faltou uma trilha sonora com algum rock anos 80 tipico dos filmes da sessao da tarde. Genial genial

C. Filho disse...

com a permissão do redator que comentou acima...
entrem no { http://darksidenet.blogspot.com/ }
num tem nada que preste, nem é mto atualizado... mas vale a pena dar uma olhada.. quem sabe xD